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Relato de Hospital #22

Meses de coragem

Chegamos devagar , a UTI estava fria e convidativa, já que o calor lá fora estava de derreter o sorvete e amolecer o chocolate.

Um olhar grudou em mim, grudou também naquela enfermeira que sutilmente acariciava o rosto daquele menino. Eu e a palhaça Emy nos aproximamos lentamente contemplando aquela cena digna de um meteoro em nosso peito.

Ele sentia dores e se esforçava para passar por aquilo tudo, arrancando forças de seu pequeno ser, com um olhar penetrante nos olhos daquela enfermeira que tocava seu cabelo e segurava seu queixo para cima. Um pouco mais de alguns meses, talvez menos que 12, no máximo uns 18, tão pequeno e tão guerreiro. Nós aqui, eles ali... Ele, ela... Em pouco tempo nós, e muitos nós na garganta, enquanto a caixa de música preenchia um espaço de tempo vazio na dor. Aquela lágrima rolou e me afogou.

Mergulhei naquele olhar pequeno e naquela relação de cuidar, assumindo diversos papéis, talvez o que tenha falado mais alto tenha sido o sentimento materno, mas de fato em meio a tudo, em seu olhar aquele garoto se viu seguro, e nós continuamos ali a observar e ouvir aquela caixinha de música tocar. Depois de mais um gole pesado em minha saliva nos olhamos e nos despedimos. O tempo parou e eu nem sei por quanto tempo. Sou palhaço e entro em hospitais com a disposição de um perdedor em busca de pequenos e gigantes ganhadores para jogarem comigo um jogo o qual nem sei qual é, só sei que ele simplesmente acontece, mas também sou pai, sou humano, fui e de certa forma sou aquele menino.

No caminho de casa, lá fora, caiu um temporal e em mim também caiu. Só não caiu aquela imagem. Um menino, uma grande luta, uma mão estendida, uma caixinha de música, dois palhaços que perderam de novo. Dessa vez ninguém ganhou, ou talvez houve apenas equilíbrio, equiparando à nossa total fragilidade. Amanhã é segunda!

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